quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Fotografia artística

Introdução

O presente trabalho tem como objetivo apresentar conceitos sobre a chamada “Fotografia Artística”. De modo algum, entretanto, falaremos do assunto como um todo, vide que a fotografia artística não tem começo nem fim – o seu limite é a imaginação do artista, o fotógrafo, e não há como mensurar tal situação.

Limitar-nos-emos, portanto, a explicar conceitos básicos que constituem o que pode ser chamado de fotografia artística, que, de maneira simplória, engloba todas as fotos que vão além do convencional, do cotidiano, fugindo de regras, trabalhando com a emoção, com o ordinário, criando uma expressão própria e apresentando a visão de mundo que o artista acredita.

O fotógrafo que trabalha com fotografia artística, em primeiro lugar liberta-se da ideia de produzir fotografias em que a luz, a distância focal, o foco e velocidade estejam em perfeita harmonia. Logicamente, tendo o domínio da técnica e conhecendo o convencional pode-se ousar usando os recursos habituais de uma forma diferente, contando também com inúmeros recursos digitais que favorecem a criatividade hoje. O fotógrafo pode arriscar novos caminhos, experimentar novas ideias.

Como forma de apresentar exemplos do que é a fotografia artística, este trabalho será dividido em outros cinco capítulos: fotograma, nu artístico, stop motionlight painting e fotomontagem.

Fotograma

Técnica desenvolvida por volta de 1920, o fotograma (ou raiografia, como também é conhecido) é um processo em que objetos são posicionados diretamente sobre o papel fotográfico, que depois é exposto à luz, conseguindo-se, com isso, imagens que registram o objeto acima do papel e sua própria sombra. Maneira inusitada de trabalhar as imagens, a execução dos fotogramas é automática, pois não necessita requer câmera fotográfica.

O principal nome a trabalhar com o fotograma foi Man Ray – pseudônimo de Emmanuel Rudnitzky -, fotógrafo e pintor norteamericano. Um dos fundadores do movimento Dadaísta nova-iorquino, o que contribuiu para o caráter experimental de sua arte. Além do dadaísmo, Man Ray também esteve bastante ligado ao movimento surrealista, quando passou a colaborar com a revista La Révolution Surréaliste.

Em suas fotografias, podem-se destacar várias linhas de força, como o jogo de luz e sombra, visível em quase toda a sua obra. Ray cultivou conscientemente a nossa confusão óptica/mental das formas e dos objetos e das suas respectivas sombras.

A fascinação de Man Ray pelo acaso, pelas máquinas e por conceitos inovadores foi o que levou o fotógrafo a usar o fotograma e, posteriormente, a solarização, que consiste na inversão de valores tonais em algumas áreas da fotografia, obtidos pela rápida exposição da imagem à luz.

Man Ray foi um fotógrafo reconhecido e bem sucedido, tendo uma foto sua, chamada Glass Tears, vendida por 65 mil dólares em 1993, um recorde até então. No entanto, o fotógrafo não chegou a ver tal façanha, já que faleceu no ano de 1976.

As fotos de Man Ray encontram-se no “Anexo 01” deste trabalho.

Nu artístico

O nu artístico nada mais é que a exposição da figura nua de uma pessoa com fins artísticos. Pode acontecer em inúmeras artes, como a pintura, a escultura, o cinema e a fotografia.

Quando a fotografia começou a florescer, entre 1830 e 1840, sua função básica era retratar indivíduos – o que, inclusive, causou diversos desentendimentos entre fotógrafos e pintores. Entretanto, nesse início, era uma arte acessível apenas aos nobres e, com o passar do tempo, acabou por se tornar mais democrática.

É nesse momento que os fotógrafos passam a perceber um mercado bastante emergente. Assim, as fotografias começaram a ser comercializadas, retratando objetos, casas, ruas, cidades, paisagens e, finalmente, os nus.

Nessa época, entretanto, apenas os nus femininos eram comercializados. Segundo David Leddick, autor do livro “The male nude” (2001) (O homem nu, em português), a sociedade da época impôs a comercialização exclusiva de fotografias de nus femininos, com fins eróticos disfarçados sob uma ótica artística. Como a maioria dos homens não gostava de se ver nu, também não questionava se alguma mulher poderia admirar a beleza artística contida em um nu masculino. Muito menos se havia homens que pudessem admirá-los dessa forma.

Entre os principais fotógrafos de nu artístico, podemos citar Edward Weston e Robert Mapplerthorpe, esse último, extremamente polêmico, por fazer fotografias extremamente explícitas e voltadas ao público GLS. Além disso, era homossexual e se relacionava com a maioria de seus modelos.

Fotos de nu artístico podem ser econtradas no “Anexo 02” deste trabalho.

Stop Motion

Stop Motion é a técnica de animação na qual o animador trabalha fotografando objetos, fotograma por fotograma, ou seja, quadro a quadro. Entre um fotograma e outro, o animador muda um pouco a posição dos objetos. Quando o filme é projetado a 24 fotogramas por segundo, temos a ilusão de que os objetos estão se movimentando” [CAPUZZO FILHO, 2001].

O stop motion surgiu, basicamente, da necessidade de registrar o movimento. Até por isso, em seus primórdios, teve caráter científico, com a necessidade de registrar o movimento do trote dos cavalos (Eadweard Muybridge, 1878) e do vôo dos pelicanos (Étienne-Jules Marey, 1882 – com a invenção de seu fuzil fotográfico). Ambos os fotógrafos eram, na verdade, cientistas, e usaram a fotografia para estudos. Entretanto, esses foram os primeiros passos para aquilo que depois, com a invenção do cinema, transformou-se no stop motion. Pode-se observar a figura dos experimentos de Muybridge e Muray no “Anexo 03” deste trabalho.

O surgimento do cinema, em 1895, veio como forma de suprir a necessidade que se tinha de registro de movimento. Entretanto, outras necessidades surgiram, como a procura de um método que ajudasse a animar seres inanimados. Nesse contexto, a volta aos estudos de Muybridge e Marey colocaram, enfim, as primeiras seções de stop motion no cinema. A ideia era simples: tirar fotos em sequencia (24 fotos por segundo) e inseri-las em meio aos filmes.

Dessa forma, o primeiro cineasta a usar a técnica foi, na verdade, um ilusionista: George Mélies, em 1902, com o filme “Viagem à Lua”. Mélies era mágico e ilusionista e, no alto de sua criatividade, usou maquetes e ilusões óticas – stop motion – para criar aquele que foi o primeiro filme com “efeitos especiais”. Após isso, uma verdadeira corrente de cineastas passou a fazer uso do stop motion em seus filmes, como James Stwart Blackton, em 1906, com seu “O hotel mal assombrado” – primeiro filme a mostrar um objeto (uma faca) movendo-se sozinho -, Segundo de Chomón, em 1906, com seu “El Hotél Electrico” e Ladislaw Starewicz, em 1910, que usava insetos mortos em seus filmes, que com animações tão perfeitas, fora acusado de treiná-los para mover-se nos filmes.

Sem dúvida alguma, o stop motion foi um dos recursos mais utilizados para se fazer animação em toda a história do cinema. Após esse boominicial, muitos cineastas passaram a usar o método para criar efeitos especiais, principalmente em filmes com monstros ou de guerras espaciais – como George Lucas, na famosa saga de “Star Wars”. Ainda no campo da animação, Jiri Trnka, nos anos 60, fez bastante uso para animação de bonecos, sendo, ainda hoje, considerado um dos maiores animadores da história.

Atualmente, o maior nome cineasta a usar o stop motion é de Tim Burton, que em 1993 lançou o filme “O estranho mundo de Jack”, todo feito de massa de modelar e maquetes. Burton, conhecido por seus filmes com toques sombrios é declaradamente fã do recurso, e fez uso em outros filmes, como “Noiva Cadáver”.

Com o passar do tempo, a tecnologia “aposentou” o stop motion como recurso utilizado para criar efeitos especiais. O advento da computação gráfica substituiu, gradualmente, seu papel em filmes. Entretanto, ainda hoje, muitos diretores e publicitários optam pelo stop motion, dado o belo resultado estético que ele oferece.

Light Painting

“Pintura de Luz” (tradução para o português) é uma técnica fotográfica que possibilita a expansão da criatividade produtiva do fotógrafo, permitindo a apropriação dos conhecimentos técnicos fotográficos de uma maneira singular. É possível criar composições inusitadas, com aspectos surreais e psicodélicos. Além do uso artístico, hoje o light painting é recorrentemente empregado na fotografia publicitária, gastronômica, arquitetônica, entre outras, sendo um recurso que diferencia o resultado final dos trabalhos mais comuns.

Apesar de não ser uma técnica nova, o Light Painting é sinônimo de modernidade. O princípio de pintura com a luz mantém-se o mesmo, mas os atuais recursos de iluminação permitem a criação de imagens nunca antes imaginadas.

O primeiro registro do light painting foi em 1914, feito pelo casal Frank e Lilian Gilbreth, que usavam a técnica para fazer estudos com os movimentos de trabalhadores em manufaturas para criar novas formas de trabalho, visando o aumento da produtividade dos empregados. Mas foi o fotógrafo Man Ray, em 1935, o primeiro a usar o light paiting com olhar artístico, criando a série de fotografias “Space Writing”.

Outro grande nome do light painting foi o albanês Gjon Mili, que teve diversas de suas fotografias foram publicadas pela Life Magazine, e, em 1949, durante o ensaio feito com Pablo Picasso, fez uma de suas imagens mais icônicas, “Picasso desenha o centauro“

Com o desenvolvimento da técnica, a luz ganha outra função: a da expressão artística. Nessa significação a luz perde a sua "invisibilidade" e torna-se um elemento dentro da obra, que representa o movimento, a velocidade, as luzes e a multiplicidade de informações dos centros urbanos. Entendemos a luz não só como meio de clarear ambientes e criar atmosferas, mas também como modo de exprimir sensações e causar as reações.

Atualmente a técnica é bastante conhecida e utilizada por profissionais e amadores - de maneira intencional ou não. Mas o fato é: as fotos resultam em bastante inusitadas. Hoje em dia o light paitingé disseminado por diversos fotógrafos ao redor do mundo, e muitos deles usam a técnica em casamentos, e outros eventos.

Veja fotos sobre o light painting no “Anexo 04” deste trabalho.

Fotomontagem

Fotomontagem é a arte de unir imagens molduras, colagem, desenhos e etc às imagens, com o intuito de modificar o que você tem de melhor. Podemos dizer também que a fotomontagem é a união de uma ou mais fotografias existentes ou a serem tiradas para a uma nova composição fotográfica.

A primeira fotomontagem foi feita em 1925, com o pôster “O encouraçado Potenki” feito por Alexander Rodchenko [primeira foto do “Anexo 05”]. Um dos grandes artistas da época, Alexander Rodchenko era inovador e trabalhou como artista plástico e designer gráfico de fotografia e montagem gráfica. Experimentou diferentes técnicas de expressões artísticas, como a pintura, a fotomontagem e a fotografia, com o fim de obter imagens sempre inovadoras.

Atualmente, a fotomontagem é muito usada no tratamento de imagens, na busca da perfeição das fotos – o que muitas vezes as deixam fora do “mundo real”. Com o uso do conhecido software “Photoshop”, a fotomontagem democratizou-se e é usada desde grandes estúdios até pessoas com um simples computador em casa.

Outro recurso inovador que surgiu graças a tecnologia foi a ideia da fotógrafa nova-iorquina Jaime Beck. Em suas imagens, digitais, a fotógrafa utiliza de “gifs” animados em pontos centrais da foto, deixando a foto com movimento – literalmente falando.

Conclusão

Expostos aqui cinco vertentes da fotografia artística, pode-se comprovar que ela é, além de ilimitada – já que, como dito no início do trabalho, o seu limite de atuação é a criatividade do artista – e atemporal, ou seja, técnicas ou criações do começo do século XX, até hoje são utilizadas em grande escala.

Referência Bibliográfica

CAPUZZO FILHO, Heitor. Quadro a quadro: Uma viagem pela história do cinema de animação. Midia@rte, Belo Horizonte, 2001. Disponível em: <http://www.eba.ufmg.br/midiaarte/quadroaquadro/>. Acesso em: 07/06/2011.

LEDDICK, David. The male nude. Koln: Tashen, 2001.

Anexo 01

 

 

(Fotogramas)

 

(Solarização) (Glass Tears)

Anexo 02

 

(Expressões do nu: escultura, fotografia e pintura)

(Foto de Robert Mapplerthorpe) (Foto de Edward Weston)

Anexo 03

(The horse in motion – Muybridge)

(O vôo do pelicano – Muray)

(O fuzil fotográfico de Muray)

Anexo 04

 

(Light Painting)

 

“Picasso desenha o Centauro” e fotografia publicada na Life Magazine, de Gjon Mili

Anexo 05

(Pôster “O encouraçado Potenki”, de Alexander Rodchenko)

(Photoshop)

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